Texto dedicado ao Sr.Edvaldo, Dna Solange e Elisângela.
No sábado de carnaval/2011 me dei à oportunidade de conhecer a saída do Ilê Aiyê no Curuzú, aproveitei convite de meu amigo Ederivaldo o Edy..
Não há profundidade cultural, histórica nem geográfica neste texto, e também não é esse objetivo.
O Ilê é o mais tradicional bloco Afro da Bahia. Tem sua sede no bairro da Liberdade, mas especificamente no Curuzú, área com maior população de negros fora da África.
Neste dia abdiquei de ir à avenida pular na pipoca, para conhecer esse pedaço do carnaval da minha terra que não é tão divulgado quanto os megas camarotes e blocos dos chamados “circuitos Tradicional” e “Circuito Dodô e Osmar”.
O Ilê Aiyê desfila na avenida, mas antes, desfila pelo Curuzu, saindo de sua sede e arrastando uma multidão de foliões e fãs orgulhosos do bloco e de sua história.
Enquanto o bloco não sai, os bares permanentes ou criados provisoriamente no Curuzú é o ponto de encontro dos foliões, onde há bastante música, dança, bebidas e encontros.
A passagem do Ilê é rápida, pois o caminhão do bloco praticamente não para. Ao final do percurso, os integrantes da agremiação se dispersam e encontram-se posteriormente nos chamados circuitos oficiais do carnaval.
Após a passagem do Bloco, a festa continua e parece não ter fim.
No inicio da noite apesar de movimentado o público festeiro ainda parece meio tímido, paulatinamente às ruas vão enchendo assim como cresce a animação das pessoas. O clímax ocorre com a passagem do bloco . A avenida se torna um manto gigante de pessoas.
Fiquei na companhia de Edy, de seus amigos, de seus pais, avó, primos, primas, tias, (era um mini bloco de carnaval). Ficamos aguardando o Ilê ouvindo partido alto do “Samba Mania” tocado numa casa que nos dias normais funciona com uma creche/escola com o nome sugestivo para o que escrevo “Caminhando pro Futuro”
Além da grande concentração de camisas do Esporte Clube Bahia, outras manifestações maravilhosas, motivou a redação deste texto. Então, vamos lá.
O que é carnaval, senão uma gigantesca festa popular, onde todos tiram suas fantasias para festejar a vida, comemorar os amigos, a família, os amores?
E foi isso que encontrei. E tive surpresas, maravilhosas.
Acreditei que sempre onde há bebida, multidão, pouco policiamento, música alta, haverá confusão, briga furtos e violência. Hoje acredito que nem sempre isso ocorre.
Vi um carnaval com todos os ingredientes que conhecemos, mas esses ingredientes no Curuzú possuem características particulares.
Tinha camarote animado, mas não era pago, eram as sacadas das casas, as lajes cheias de convidados e moradores plenos de energia e pulmão para cantar antes e depois da passagem do Ilê. Esses camarotes não dividem a avenida com os foliões.
Havia policiamento, um pequeno contingente, mas havia. Só que a cena de viaturas passando onde soldados faziam percussão em seus veículos para acompanhar o ritmo da festa, moradores- foliões oferecenndo “tira-gosto”, aos policiais militares, demonstrava que é possível à manutenção da ordem e harmonia entre polícia e sociedade.
Foi uma festa popular como dita o carnaval? Foi, foi legítima, tinha gente rica, pobre, tinha preta, branca, mestiça, tinham velhos, novos, crianças, sei lá, tinha gente. Eu sei que todos estavam lá, se misturando como tem que ser, pois esse é o verdadeiro sentido da vida. Somos um só com oportunidades distintas e pensamentos e ações diferentes como tem ser, mas no fundo, iguais no direito à felicidade, a ir e vir, a escolher o estilo de vida, a lutar de nosso jeito pelo nosso destino, a sermos respeitados.
Havia lugar para o pipoca e os blocos. A vestimenta do Ilê tornava seus integrantes os grandes personagens de uma história, mas não se sentiam superiores por isso.
E se me perguntam, tinha gente bonita? Afirmo sem dúvida. Havia Mulheres que me deixavam de queixo caído, somente o queixo caído. Dos meninos não vou opinar a esse respeito. Mas acima de tudo a felicidade, os sorrisos, as conversas, as danças o olhos e o semblante daquele povo tornava aquele lugar em um local de gente muiiiito bonita.
Havia imprensa? Sim. A globo, O SBT e a Band, estavam lá, o mais impressionante, no entanto, foi ver a imprensa do Youtube, que a cada intervalo de gravação sambava, ovacionava aquela magia do povo baiano. Não me lembro de ver transmissão tão interativa.
Pois bem, vi algo simples e complexo, que tento explicar, mas parece inexplicável, onde gerações e famílias se encontraram. Senti na pele o espirito da baianidade, que explica as nossas raízes. Reafirmo, vi uma festa popular no que tem de mais verdadeiro, com divertimento, com amor, com alegria. Vi o Carnaval.
Obrigado Edy.